A noção de philía e depois a de amicitia assinalam um dos raros pontos de confluência que os mil anos de reflexão filosófica da Antiguidade nos legaram.

Sabe-se o quanto a amizade foi central para a Antiguidade greco-latina e que mesmo pensadores muito diferentes entre si partilharam uma comum valorização da amizade, ainda que por razões distintas. Afinal, sem amigos como exercitar-se na vida moral?

      Pensemos nos pré-socráticos, em Demócrito, em Sócrates, nos sofistas, em Platão e na tradição platônica, em Aristóteles e no aristotelismo, em Epicuro, nos estoicos e na tradição neoplatônica (de Plotino a Proclo passando por Simplício) e sempre encontramos profundas reflexões sobre o sentido e o significado da amizade.

      O propósito deste simpósio, portanto, é explicitamente o de apresentar uma visão abrangente e multifacetada dessa prática e dessa reflexão filosófica sobre a philía/amicitia na Antiguidade, mas de modo implícito é também o de ser um tributo ao nosso pranteado amigo Marcelo Pimenta Marques falecido em agosto do ano passado e que juntamente conosco aqui no Departamento de Filosofia da UFMG iniciou esta série de encontros internacionais sobre Filosofia Antiga.

Esperamos, portanto, que a ocasião de poder falar sobre a amizade na Antiguidade possa também servir de pretexto para falarmos de nossa amizade por ele e de nossa amizade pelos pensadores antigos que nos oferecem com frequência palavras incontornáveis para nomearmos e tentarmos definir essa experiência que todos conhecemos e que tanto significado possui em nossas vidas.